Numa primeira leitura, o quarto montessoriano parece resolver de forma descomplicada alguns problemas relacionados com o sono dos mais pequenos: acabam as nódoas negras e os despertares nocturnos de cada vez que o bebé toca nas grades; a criança deixa de fazer malabarismos arriscados para sair do berço; brinquedos e objectos do dia-a-dia estão sempre disponíveis, sem que a criança tenha que pedir ajuda a um adulto, favorecendo a sua destreza e motricidade.

No entanto, não pensem que a adaptação a este conceito de quarto não traz também os seus desafios. Isto de oferecer escolhas e independência a um bebé tem que se lhe diga!

O que acontece recorrentemente numa cama do tipo “colchão no chão” (a versão inicial e mais simples de uma cama montessoriana) é o bebé ir rolando durante o sono e acabar por acordar na outra ponta do quarto, frio e com os pés dentro da estante dos livros!

À primeira vista, pode parecer uma contrariedade mas não é. Porque quando isto acontece, significa que a criança está a descobrir e a praticar uma nova competência: a consciência dos limites físicos. Esta mesma competência vai ser muito importante quando começar a subir e descer escadas, por exemplo, ou quando dormir na “cama grande”.

O bebé vai começar a perceber, ainda que de forma inconsciente (neste caso, a dormir!), que se puser um pé fora do colchão e se rolar para aquele lado, vai sair da cama. Ora, isto só se consegue assimilar com o treino, certo? O que implica que vai encontrar o seu filho nas posições mais mirabolantes, a dormir placidamente um pouco por todo o quarto! Faz parte do processo de aprendizagem. O seu filho não é sonâmbulo nem tem nenhum distúrbio de sono!

Mas e a questão de se destapar, de dormir no chão e acordar com uma amigdalite na manhã seguinte, despertar às duas da manhã completamente gelado ou bater em algum objecto e magoar-se? Antes de mais nada, o quarto montessoriano tem que ser completamente seguro (esquinas protegidas, tomadas tapadas, espelhos de alumínio e não de vidro e por aí fora). Quanto ao problema do frio, a solução pode passar pela utilização de tapetes ao lado da cama (dica amiga: coloquem um anti-derrapante por baixo).

Podem até forrar o chão com aqueles puzzles gigantes de EVA (certifiquem-se de que não tem componentes tóxicos) ou com um tapete tatame para yoga, que isolam muito bem o chão frio; e, claro, vestir bem o bebé, para que não tenha frio, mesmo destapado.

Dica de mães transmontanas, que sabem bem o que são noites frias: sobrepor um roupão/robe (daqueles de pelúcia ou polares) ao pijama. Isto porque, mesmo que coloquem um aquecedor no quarto, este não deve estar demasiado quente, para não secar demasiado o ar e para não queimar a criança, caso lhe toque. Muita cautela com os aquecedores nos quartos dos mais pequenos!
Mas se vos fizer realmente muita confusão essa fase de dormir de qualquer maneira, no chão, e se preferem criar um pequeno obstáculo para que o bebé não saia tão facilmente da cama e, ainda assim, não contrariar a filosofia Montessori, há solução!
Primeira opção: façam um rolinho com uma manta e coloquem-no no limiar do colchão, debaixo do lençol (para que não caia quando a criança lhe tocar inadvertidamente).

Segunda opção: usar uma barra de segurança lateral.

Qualquer uma destas opções permite que o bebé saia da cama sempre que queira, pelo que são Montessori-friendly.

No fim, o mais importante é perceberem que todo este rock and roll faz parte da adaptação, que demonstra uma nova habilidade a ser adquirida pela criança, que é natural e passageiro.

Eles são sempre tão fofos a dormir, mesmo enrolados nos lençóis e nas mantas… parecem umas tortas! E fazem-se sempre umas fotos tão, mas tão engraçadas!

 

Artigo revisto em 06/2019

Fontes das imagens:
Figura 1 – https://thefullmontessori.wordpress.com/2012/08/19/the-realities-of-a-floor-bed-i-e-you-dont-always-get-to-call-the-shots-with-a-montessori-child
Figura 2 – https://montessorimoms.wordpress.com/tag/floor-bed
Figura 3 – http://rockrosewine.com/2013/05/31/montessori-style-floor-bed