Quando devemos apresentar um objecto de transição ao nosso bebé?
A humanização das maternidades
Praticamente em toda a história, mães e os seus bebés mantinham-se juntos depois do parto. Os bebés ficavam seguros e quentes, com maior facilidade de acesso ao leite materno; mãe e filho interagiam desde o primeiro minuto. No entanto, em tempos idos, o parto era caseiro e a mortalidade infantil não era uma estatística desprezável (se é que alguma vez possa ser).
Tudo muda no início do século XX. O parto transfere-se do aconchego do lar para o hospital e, de repente, o procedimento adoptado passou a ser o de isolar os bebés de contaminações num berçário comum, separados das mães, que recuperavam nas enfermarias e esperavam longas horas para verem os seus filhos. Os familiares viam o bebé através do vidro e os cuidados ficavam a cargo de enfermeiras e de médicos obstetras. Tudo muito asséptico.
A intenção dos profissionais de saúde era a melhor: o bebé não estava exposto a infecções em tão tenra idade e a mãe recuperava intensivamente do parto. Mas a comunidade científica tem-se empenhado em demonstrar que o melhor para mãe e bebé é mesmo o regresso às origens e ficarem juntos, desde o primeiro segundo (o chamado “rooming-in”).
Quanto mais rapidamente mãe e filho contactarem (de preferência pele com pele, que é mais visceral; os instintos emergem muito mais rapidamente), mais facilmente a mãe percebe as necessidades do bebé, que se vai sentir seguro e quente. Esta entrega de um bebé à sua mãe, praticamente no mesmo instante em que inspira ar pela primeira vez, é até considerado um “procedimento médico”, designado por “método canguru”. E os benefícios são inúmeros: desde a colonização do bebé com a flora bacteriana da pele da mãe, que o protege de eventuais microrganismos nefastos; até à regularização dos batimentos cardíacos do bebé, por “osmose” do ritmo do coração da mãe (lindo, não é?); a própria amamentação se torna facilitada, graças ao festival de hormonas que ocorre dentro daquelas paredes da neonatologia.
No que diz respeito ao descanso da mãe que recupera do parto, há estudos que referem que as mães cujos bebés são cuidados no berçário não conseguem dormir melhor que aquelas que dormem ao lado dos seus bebés, à noite. Uma mãe dorme mais tranquilamente sabendo que o seu bebé está com ela. Elementar. E o bebé chora menos no regaço da mãe. Incontestável.
Esta é a primeira fase do amadurecimento parental que, felizmente, está bem gravada nos nossos instintos mamíferos e que, finalmente, a comunidade científica comprova (não é que precisássemos propriamente da aprovação da Ciência, mas é sempre bom vermos corroboradas as nossas certezas pelos profissionais de saúde que nos acompanham nesta fase tão complexa da nossa via).
Felizmente, os nossos hospitais estão cada vez mais “amigos” dos bebés, das mães, dos pais, da amamentação, do sono. Hoje em dia, pratica-se o “co-sleeping”: mãe e bebé partilham o quarto e o sono, basicamente, não se largam. Mas há sempre espaço para oportunidades de melhoria e os nossos amigos europeus já estão um passo à frente: em países como o Reino Unido, Suécia e Holanda, já praticam a cama compartilhada, com berços acopláveis à cama onde a mãe descansa. Contacto total e permanente, tudo o que os dois precisam (salvo situações extraordinárias, com patologias envolvidas)!
Não tenho dúvidas de que, não tarda, também vamos ter essa oportunidade em Portugal. Espero. Esperamos todos, não é?
Fontes das imagens:
1- http://abcnews.go.com/Health/blizzard-baby-booms-fact-fiction/story?id=28496290
2- http://www.geldersevallei.nl/1553/redenen-langer-verblijf-op-de-kraamafdeling